terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Construção

   Diante de todo esse processo político, o qual estamos passamos torna-se comum criticas contra a atual situação. Concordo e acho importante que existam pessoas interessadas no nosso processo politico, porém algumas  críticas não são válidas, pois muitas vezes ouvimos reclames sobre coisas de mínima importância e que as vezes não depende da atual gestão. Criticar é ato totalmente legitimo, porém quando é feito com consciência.
   Como já foi dito acima, as criticas podem ser feito, mas  quando conhecemos os reais problemas e as possibilidades de melhorias; não digo que muitas coisa por aqui não deva melhorar. Será que todos os reclames foram feito de maneira racional, ou será porque "ELES"já não tem mais as mesmas regalias de antes? Pois, essa questão merece uma melhor observação, uma melhor reflexão. Digo isso porque conheço muita gente que durante mandatos passados não abriam a boca para denunciar os descasos, sei que antes não tinha-mos os mesmos meios de comunicação de hoje; e que hoje através deles podemos reivindicar melhorias. Hoje, precisamos rever nossos conceitos, como dizia Raul Seixas" somos metamorfoses ambulantes" e nesse processo de constante mudanças de pensamentos e opiniões muitas vezes temos que ser coerentes em expor nossas opiniões.
  Acredito que não seja fácil assumir uma instituição, a qual deve ter dívidas absurdas, já que muitos que lá estiveram, ou melhor, administraram a usaram para enriquecer e enriquecer seus bons amigos. Não podemos também esperar muitas mudanças até porque a real situação da nossa prefeitura é de extrema calamidade, mas acredito que o atual prefeito Nêgo Sarrapião possa nos trazer melhores condições e  melhorias  não só para alguns, porém para toda população joaquingomense, isto sou eu quem digo nessa nota pública, como também não terei problema nenhum  se em um próximo texto eu desconstrua toda essa boa possibilidade.Todos nós estamos sujeitos ao erro. O que não podemos é usar os nossos erros sempre como uma chance de começar de novo, temos que ser o mais empenhado possível para que a nossa oportunidade sirva de ensinamento para outros.
  Nada mais do que justo que em um município que só tem aumentado o índice de futuros profissionais, sejam eles nas áreas da educação, saúde e exatas, possamos enxergar  Joaquim Gomes como o nosso primeiro local de experiência profissional, afinal temos por obrigação construir aqui um melhor futuro para aqueles que não tiveram a mesma oportunidade, mas que nem por isso deixam de contribuir nessa construção.


  Existe vários setores públicos que precisam ser revisto, como por exemplo; onde está a secretaria de cultura e quem responde por ela? Para onde vai os recurso por ela recebido? Existe recursos? Quanto? São perguntas válidas para esse momento. Um dos vários problemas é que sempre quando falamos, ou demonstramos nossa opinião sobre determinado assunto, logo nos taxam de oposição, e na verdade nós só queremos o melhor para o lugar de onde viemos e amamos. Queremos que Joaquim Gomes seja estampado nas páginas dos jornais não só quando algum político for acusado de corrupção, ou quando acontecer uma tragédia climática, queremos é ter orgulho de dizer que moramos em um lugar onde somos avaliados pelo que somos e pelo que sabemos; não pelo o que temos. Queremos poder opinar e ver nossas opiniões serem ouvidas e entendidas? Queremos muito desse lugar que, acredito eu tem muito a oferecer. As vezes fica parecendo que nós que aqui criticamos estamos sempre torcendo pelo pior, e isso não é verdade, apenas queremos dizer que somos de uma cidade que tem origem indígena, dizer que somos da "cidadizinha" que hoje tem um dos altos índices de alunos no superior. Quero que sejamos visto por tudo de bom que temos para oferecer para a nossa terra.
  Precisamos construir juntos a nossa cidade, e que cada tijolo seja colocado por pessoas que só queiram o melhor para a nossa cidade. Como já disse no primeiro parágrafos eu torço muito pelo novo prefeito e acredito que muitas coisas boas serão feitas, até porque antes de assumir o seu atual cargo já era uma pessoa com sede de vencer e que aos poucos vem vencendo, mas que também irá precisar da compreensão e do apoio de todos nós Joaquingomenses.
  Que esse texto sirva para que os leitores façam um raio X da nossa atual situação e que juntos coloquem tijolo, por tijolo e assim possamos erguer nossa cidade.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

  POESIA / MÚSICA CONTEMPORANÊA: LUIZ GONZAGA JUNIOR   (GONZAGUINHA)

Apresentação

O presente texto tem a proposta de analisar a poesia e a música de Luiz Gonzaga Junior – O Gonzaguinha. Artista da Música Popular Brasileira – MPB, o poeta e compositor iniciou sua carreira  na década de 60, porém sua consagração se deu na década seguinte notabilizando sua rara inspiração, cujas obras são praticamente autorais, sem parcerias. A maioria de suas composições é de incontestáveis méritos para aquele que foi e ficou conhecido nacionalmente como o filho do Rei do Baião – O Mestre Lua – O Gonzagão – Luiz Gonzaga.
Gonzaguinha não foi criado pelo pai biológico no nordeste. Sua mãe morreu muito cedo com apenas 22 (vinte e dois) anos, com dois anos apenas, seu Pai o entregou aos padrinhos, alegando não poder criar o menino, pois viajava muito pelo país por causa dos shows que tinha que apresentar e não encerrar de modo abrupto a carreira artística. O menino foi criado no Morro de São Carlos, no Estácio – Rio de Janeiro.
Moleque Luizinho apelido de infância, vivia nas ruas, nas ladeiras do Morro e para conseguir algum dinheiro, carregava sacolas para senhoras que iam as compras nas feiras livres e servia de olheiro para os bicheiros do local onde morava, quando a polícia dava as batidas costumeiras para prender os contraventores do local.
O aprendizado do menino se deu em uma escola pública na redondeza onde morava e o contato musical se deu em casa ouvindo o padrinho tocar violão. Encantado pela música Gonzaguinha ouvia Lupicínio Rodrigues, Jamelão, as músicas do Rei do Baião ( o pai), amava bolero e freqüentava programas sertanejos, apreciava as músicas portuguesas, pois sua madrinha era filha de portugueses e o mantinha ligado às tradições da família.
Do Velho Lua recebeu o nome na certidão e algum dinheiro para os estudos depois de ter passado boa parte da infância  entre a malandragem dos moleques de rua e o carinho da mãe adotiva. Imerso nas atribulações cotidianas da população do local onde crescia, o Moleque Luizinho crescia e aprendia a dureza de uma vida marginal, a injustiça vivida por uma parcela da sociedade que não tinha direito a nada, totalmente excluídos da sociedade dominante.
Muito esperto, aos catorze anos, Gonzaguinha já dava sinais de talento para poesia e música e fez sua primeira composição “Lembranças de Primavera”. Mais tarde compôs “Festa” e “From U.S. of Piauí”.
Em 1961, quando completou 16(dezesseis) anos, os pais adotivos de Gonzaguinha não tiveram mais condições financeiras para os estudos do menino que queria cursar uma Faculdade de Economia, então o menino foi morar com o pai biológico.
Os desentendimentos com D. Helena, esposa de Gonzagão, na época fizeram com que fosse internado num colégio. O rapaz  concluiu o Curso Clássico e ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.
A infância pobre no Estácio, os conflitos familiares e o espírito crítico ao longo de suas trajetória de vida, aliados ao estudo universitário e a vivência de uma época da considerada “a mais dura das ditaduras”, no Brasil, o tornou um dos mais criativo e inteligente compositor da Música Popular Brasileira Contemporânea.
Cidadão consciente social e politicamente, Gonzaguinha era capaz de inserir o cotidiano nas músicas que compunha. Um crítico feroz dos desmandos da ditadura e a falta de liberdade de expressão,  perseguido muitas vezes pela censura e aos poucos se deixou levar pelos caminhos do coração e conseguia aliar dramas sociais e políticos, com paixão, sem ser sentimental ao extremo, nas letras de suas músicas. Um excelente poeta romântico adentrava no universo feminino que poucos conseguiram.
Ao longo de sua grande e curta carreira (por ter morrido ainda jovem e de forma trágica), conseguiu em 1980, nos deu uma obra que possibilitou compreender um pouco mais seu pensamento “De volta ao Começo”, um disco no qual uniu crítica social com canções de amor. Um belo trabalho com uma visão global da época que o país atravessava. Vejamos algumas letras, nas quais o músico/poeta  abordou  questões sociais, denúncias da violência ditatorial entre outras também de fundo romântico, essas últimas nos possibilitou compreender  através da música o  lado romântico  do compositor um pouco antes do seu  falecimento no ano de 1991.

É (Gonzaguinha)
É!
A gente quer valer o nosso amor
A gente quer valer nosso suor
A gente quer valer o nosso humor
A gente quer do bom e do melhor...

A gente quer carinho e atenção
A gente quer calor no coração
A gente quer suar, mas de prazer
A gente quer é ter muita saúde
A gente quer viver a liberdade
A gente quer viver felicidade...

É!
A gente não tem cara de panaca
A gente não tem jeito de babaca
A gente não está
Com a bunda exposta na janela
Prá passar a mão nela...

É!
A gente quer viver pleno direito
A gente quer viver todo respeito
A gente quer viver uma nação
A gente quer é ser um cidadão
A gente quer viver uma nação...
É
É! É! É! É! É! É! É!...

É!
A gente quer valer o nosso amor
A gente quer valer nosso suor
A gente quer valer o nosso humor
A gente quer do bom e do melhor...

A gente quer carinho e atenção
A gente quer calor no coração
A gente quer suar, mas de prazer
A gente quer é ter muita saúde
A gente quer viver a liberdade
A gente quer viver felicidade...

É!
A gente não tem cara de panaca
A gente não tem jeito de babaca
A gente não está
Com a bunda exposta na janela
Prá passar a mão nela...

É!
A gente quer viver pleno direito
A gente quer viver todo respeito
A gente quer viver uma nação
A gente quer é ser um cidadão
A gente quer viver uma nação
A gente quer é ser um cidadão
A gente quer viver uma nação
A gente quer é ser um cidadão
A gente quer viver uma nação...

 E vamos à Luta (Gonzaguinha)

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou á luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e contói
A manhã desejada
Aquele que sabe que é negro o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro

Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada

Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos ‘pelaí’...

Nessas duas primeiras composições acima “É” e “E Vamos a Luta” surgiram  numa época que o Brasil atravessava grandes tensões  políticas, no final dos anos 70 e inicio dos anos 80. Também era acentuado o crescimento de movimentos sociais, abertura política e a juventude se conscientizando das questões religiosas e políticas.
Na letra de “E Vamos a luta”, nas três primeiras estrofes o compositor fala da alma do brasileiro que luta pela vida, por seus direitos e apesar das dificuldades que enfrenta no cotidiano procura sempre um jeito de curtir a vida. A partir da 4ª estrofe, uma outra questão é abordada, a questão do ser negro, mesmo excluído pela sociedade dominante segue lutando contra as desigualdades e sobrevive com orgulho de ser brasileiro, tem força suficiente para transformar as dificuldades em conquistas encontrando um modo de seguir em frente sem se deixar abalar com as exclusões e discriminações.
Todas essas questões e tensões apontadas acima, Gonzaguinha trouxe para dentro de suas músicas e também denunciava o violento regime militar da ditadura como nas letras das músicas abaixo  “Achados e Perdidos”, “A Marcha do Povo Doido”, entre outras.

Achados e Perdidos
Quem me dirá onde está
Aquele moço fulano de tal
(Filho, marido, irmão, namorado que não voltou mais)
Insiste os anúncios nas folhas
Dos nossos jornais
Achados perdidos, morridos
Saudades demais
Mas eu pergunto e a reposta
É que ninguém sabe
Ninguém nunca viu
Só sei que não sei
Quão sumido ele foi
Sei é que ele sumiu
E que souber algo
Acerca do seu paradeiro
Beco das liberdades
Estreita e esquecida
Uma pequena marginal
Dessa imensa Avenida Brasil
A Marcha do Povo Doido
Intro: (Cm D7 Gm Am5-/7 D7 Gm)
Gm
Confesso
Cm
Matei a Dana de Teffé
Am5-/7
E muitos mais se você quiser
D7 Gm
Eu sou qualquer José Mané
F#5+ Gm/F Am5-/7
Dos Santos, da Silva, da Vida
Gm
Confesso
Cm
A culpa pela carestia
Am5-/7
E pela crise de energia
D7 GM
Eu sou o dono da OPEP
F#5+ Gm/F G7
Ou Pepsi, ou Coca ou Cola
Cm
Confesso
Am5-/7
Nem precisa bater
D7 Gm
E confessar me alivia
Gm/F
Vem meu bem
Em5-/7
Me condena com aquela anistia
D7 G7
Me manda logo pra cadeia
Cm D7 Gm
Garanta um pouco a minha poupança
Gm/F Am5-/7
Pois pelo menos estando em cana a minha pança
D7 Gm F#5+ Gm/F
Nessa composição, como o próprio tema indica  “Achados e Perdidos”, Gonzaguinha tece com todo vigor críticas sociais  e denuncia  a violência do regime ditatorial da década de 60 e 70, fazendo uso de uma linguagem clara inteligível e que não deixa dúvidas para o leitor quanto ao conteúdo e significação.
 Os anos 60 e 70 foi uma época de grande perseguição promovida pelos militares  que estavam no Poder. As pessoas que caiam nas garras dos militares eram torturadas, humilhados, desapareciam sem deixar vestígios e os que permaneciam sob o poder dos militares, para se verem livres das torturas contra eles praticadas confessavam-se culpados de crimes que nunca haviam praticado. O regime militar era tão severo para com o povo brasileiro, que muitos, ao serem apanhados, por não terem subsídios para suprirem as necessidades básicas como alimentação, não resistiam, desejavam ser aprisionados para não morrerem de fome nas ruas.
Nas letras produzidas por Gonzaguinha, de forma ora explícita, ora implícita, o compositor  nos  põe a par  da dominação das grandes indústrias que surgiram no país. A economia gerada, era concentrada nas mãos de poucos e acentuava cada vez mais as desigualdades sociais (essa questão não faz parte do passado, ainda é contemporânea), emprobrecendo cada vez mais as populações de baixa renda.

Um Homem Também Chora

Um homem se humilha
se castram seus sonhos.
Seu sonho é sua vida
e vida é trabalho
e sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
e sem a sua honra
se morre
se mata.
Não dá pra ser feliz.
Não dá pra ser feliz.

Acima temos uma bela poesia de Gonzaguinha onde estão explícitos seus   sentimentos, sua sensibilidade na canção Um Homem Também Chora. Uma revelação inequívoca do conteúdo sagrado que o trabalho assume, não só para ele como cantor/compositor, poeta/músico, mas também  para aqueles que o praticam na plenitude racional-emocional da natureza de seu ser. Num olhar mais atento, percebe-se a existência de uma denuncia contra o capitalismo industrial como sendo uma ordem de coisas inalterável, à qual o trabalhador deve viver e se submeter, escravizado, explorado não será feliz jamais.


Lindo Lago do Amor

E quem que viu
o bem-te-vi
A sabiá
sabia já
A lua só olhou pro sol
A chuva abençoou
O vento
dizem que é feliz
A águia quis saber
Por que porque
pour quoi será
O sapo entregou
Ele tomou um banho d’água fresca
num lindo lago do amor
Maravilhosamente clara a água
num lindo lago do amor

Feliz
Para quem bem viveu o amor
Duas vidas que abrem não acabam com a luz.
São pequenas estrelas que correm no céu
Trajetórias opostas
Sem jamais deixar de se olhar.

É um carinho guardado no cofre
De um coração que voou;
É um afeto deixado nas veias
De um coração que ficou;

É a certeza da eterna presença
Da vida que foi
Na vida que vai.

É a saudade da boa:
Feliz, cantar.

Que foi, foi, foi
Foi bom e pra sempre será
Mais, mais, mais...

Maravilhosamente amar.

A composição acima “Feliz”, o compositor nos presenteia com uma letra de rara sensibilidade, ainda que o tema abordado seja muito comum: duas  pessoas que a vida por algum motivo separou, não conseguem se desligar por completo ( “trajetórias opostas, sem jamais deixar de se olhar”). Não temos como negar que há poesia  nos versos como: “É um afeto deixadonas veias de um coração que ficou” e “ é a certeza da eterna presença da vida que foi na vida que vai”.  Versos que não precisam de grandes explicações para nos revelar  mais um lado encantador de Gonzaguinha.
Na canção “Lindo Lago do Amor” , várias metáforas expressando um outro lado do compositor, o de uma pessoa cheia de esperança, acreditando que é possível ser feliz e acreditando sempre no amor.
Sangrando

 Quando eu soltar a minha voz
Por favor entenda
Que palavra por palavra
Eis aqui uma pessoa se entregando

Coração na boca
Peito aberto
Vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
Que eu estou cantando

Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo

Veja o brilho dos meus olhos
E o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado
Transbordando toda a nossa emoção

E se eu chorar
E o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante
Que o teu canto é a minha força
Pra cantar
Quando eu soltar a minha voz
Por favor, entenda
É apenas o meu jeito de viver
O que é amar

Grito de Alerta
Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça
Me bota na boca
Um gosto amargo de fel...
Depois
Vem chorando desculpas
Assim meio pedindo
Querendo ganhar
Um bocado de mel...

Não vê que então eu me rasgo
Engasgo, engulo
Reflito e estendo a mão
E assim nossa vida
É um rio secando
As pedras cortando
E eu vou perguntando:
Até quando?...

São tantas coisinhas miúdas
Roendo, comendo
Arrasando aos poucos
Com o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
De gritos e gestos
Num jogo de culpa
Que faz tanto mal...

Não quero a razão
Pois eu sei
O quanto estou errado
E o quanto já fiz destruir
Só sinto no ar o momento
Em que o copo está cheio
E que já não dá mais
Prá engolir...

Veja bem!
Nosso caso
É uma porta entreaberta
E eu busquei
A palavra mais certa
Vê se entende
O meu grito de alerta
Veja bem!
É o amor agitando o meu coração
Há um lado carente
Dizendo que sim
E essa vida dá gente
Gritando que não...(2x)

Nessas duas últimas composições  analisadas no presente texto, o compositor nos traz as questões dos dramas conjugais, tanto na letra da música “Sangrando” como  na letra de “Grito de Alerta”.  O lado romântico de Gonzaguinha, mais uma vez se aflora nessas composições, totalmente diferente das letras das músicas, em que denunciava os dramas sociais, os anos de chumbo marcado pela ditadura militar e por ela perseguido tendo várias composições censuradas.








Considerações Finais:

Luiz Gonzaga Junior lutou por um Brasil mais justo, durante o tempo que ficou conosco, o musico/poeta  foi considerado como um compositor destemido e passional, artista da MPB, sempre buscou falar/escrever com extrema lucidez de política, de existência, do papel da mulher e das relações conjugais. Nas obras que nos deixou, se lançarmos um olhar mais atento e aguçarmos mais nossa audição, perceberemos o teor altamente confessional do autor, a maioria das obras está ligada  a sua trajetória pessoal, desde infância, quando entregue aos padrinhos, a época da ditadura militar que foi perseguido, censurado por causa de suas escrituras, o MAU – Movimento Artístico  com Ivan Lins, Aldir Blanc entre outros e os novos valores que começavam a se destacar na MPB, até o dia que partiu para sempre.
Gonzaguinha procurou, apesar de misturar amor com dramas sociais cotidianos, dar sentido  de esperanças de um novo país e alegria ao povo brasileiro através de suas composições, estava se tornando uma pessoa diferente daquele homem descrente, rancoroso que surgiu em 1968, na época da ditadura e cheio de mágoas por causa dos conflitos familiares.
O compositor nos deixou de forma trágica, numa manhã do dia 29 de abril de 1991, decorrente de um acidente na BR-280 a 390 km de Curitiba, quando retornava de um show e se dirigia para Foz do Iguaçu onde entraria num avião e retornaria para o Rio de Janeiro. Dirigia o próprio carro e teve morte instantânea  quando bateu numa caminhonete. Seu trabalho, sua carreira artística marcou nosso tempo e como poucos soube perceber sua própria história e fazer história no país, sua voz, sua música, sua poesia viverá para sempre na memória do povo brasileiro, de seus contemporâneos e na Música Popular Brasileira.











REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANCO, Carlos. A Censura na MPB. Porto Alegre: Alcance, 1994.
TINHORÃO, José Ramos. Pequena História da Música Popular. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
Sites consultados:
http://gonzaguinha.letras.terra.com.br/letras/259335/  consultado em 19/03/2008.
http://gonzaguinha.technet.com.br/ consultado em 19/03/2008.
http:// www.mpbnet.com.br/musicos/gonzaga.jr/index.html - MPBNet Música Brasileira de qualidade – consultado em 19/03/2008.

Obra encontrada no endereço eletrônico :http://www.overmundo.com.br

Comentário a respeito de nós mesmos

  Há um tempo atrás hera-mos crianças e o futuro era a nossa herança e o que herdamos foi a discórdia e  a ganância. Crescemos e como os galhos de uma arvore fomos cada uma para o seu lado, e como dizia Gonzaguinha "são caminhos como as linhas dessa mão". Nessa busca insensata, muitas vezes deixamos para trás aqueles fins de tarde, os passeios sem ter hora para chegar, o "descompromisso" que nos fazia tão bem. Agora temos que caminhar em linha reta, para não sermos interrompidos, abortados e até mesmo excluídos de um país tão desigual e que apesar de tudo nos orgulhamos de ser brasileiros. Hoje, só a continuidade daqueles velhos planos é o que nos interessa para continuarmos seguindo, fortes e encantado pelo desejo de vencer.
  Quantos jogos no fim da tarde, quantas aventuras pelo mato adentro, quantos jeitinhos encontramos para não repetir de ano,aqueles corredores ainda continuam por lá, assim como as "paredes riscadas a giz testemunhando que alguém foi feliz"( trecho da música Lembra de mim- Ivam Lins), quantos trotes, quantos rock nós dois cantamos,a história, ou melhor a música da velha que todos os dias na saída da escola cantávamos,o sonho de ser herói e salvar o mundo de um vilão, nossos heróis foram passados para outra geração, aquele sonho de ser craque ficou só mesmo nas peladas e os rock's em papéis que não encontramos mais. Agora, você se foi para um lugar distante, desconhecido e perverso; assim como são as cidades grandes, as metrópoles. Antes nos esbarrávamos pelos corredores e esquinas, hoje tentamos transmitir nossa saudade através de fios de micro-fibras, por instrumentos tão avançados quanto o nosso desejo de se encontrar. Lembro daqueles encontros para a perversidade, para caminharmos sem ter hora para chegar, e isso era o que nos fazia ser criança. Nossos pequenos delitos, mas que não foram capazes de fazer mal a ninguém, a não ser a nós mesmos. Era o que nos fazia ser moleques... Moleques que cresceram e que hoje se lançam nas ruas, nas cidades grandes, nas disputas por espaço, e que nessa "competitividade capitalista" as vezes somos forçados a sermos o que nós nunca fomos; desumanos, ambiciosos e solitários.
  Qual a chance de todos nós se encontrarmos de novo? Assim, como cada despedida. Quando iremos ri de tudo isso? Quando iremos comemorar juntos a nossa vitória, tomando aquela dose  e chorando outros fracassos? Quando? Nada se mantém como antes, como a pouco tempo, nada... A solidão é substituída por boas lembrança, e quando o sal molha o nosso rosto cantamos em voz alta: "Um dia feliz, as vezes é muito raro...falar é complicado, quero uma canção fácil..." Fácil, como a vida que levávamos. Vida fácil, fácil, fácil...
  Aqui, eu tento manter viva as boas lembranças de várias crianças que cresceram lado a lado e que já mais se esqueceram, mesmo sem se ver, mesmo que através de fotografias velhas, somos ainda meninos que em uma busca emocionante procuram dentro da legalidade e do que acreditamos ser de direito e correto para sobreviver...Essas capitais que nos separam, não são capazes de nos "separar". 

domingo, 30 de janeiro de 2011

A lua lá no céu



A lua lá no céu tem o seu papel
ilumina seu quintal, reluz em seu olhar
A lua lá no céu, quente, morna e fria
encanta, inspira e entristece
A lua lá no céu, branca, cheia, minguante

Lua de São Jorge, São Pedro e São João
Lua minha, tua e de todos nós
Lua de quem ama, chora, sofre e canta 

A lua lá no céu tem o seu papel
bailando com os astros, em um céu de estrelas
A lua grande, gorda e quente
clareia o mar, os pés molhados na areia
A lua lá no céu, suave toca o chão
vai e vem, dançando com a noite

Lua de São Jorge, São Pedro e São João
Lua de balões, estrelas e solidão
Lua minha tua e de todos nós

A lua lá no céu, tem o seu papel
você fotografa, eu me inspiro,escrevo e sobrevivo
A lua lá em riba, nós aqui em baixo
A lua lá no céu, tem o seu papel
lua minha, tua e de todos nós
lua que você me deu